De: Gileno Ferreira Diniz
INTRODUÇÃO
A luz da Palavra de Deus
queremos conhecer melhor o homem de Nazaré, o jovem Jesus, o filho de Deus, o
nosso amigo e irmão. É importante compreendermos que a mensagem de Jesus é
dirigida a cada um de nós!
Nosso estudo será da
seguinte forma: na primeira parte iremos estudar algumas considerações
necessárias para compreendermos os textos bíblicos que nos propomos estudar; na
segunda parte, procuraremos acompanhar Jesus e sua vida como pregador, ouvindo
sua pregação sobre o reino de Deus; na terceira parte, acompanharemos Jesus em
sua paixão e morte; na quarta parte, nos deteremos na ressurreição e seu
conteúdo teológico; e, por fim, veremos o significado da fé em Jesus Cristo.
I – QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
A) Relação entre o Cristo da Fé e o Jesus Histórico
A
questão básica da nossa reflexão é a articulação entre:
CRISTO DA FÉ: “é aquele anunciado pela Igreja depois da Páscoa, o
Cristo dos símbolos de fé e das declarações dogmáticas”.
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JESUS HISTÓRICO: “é o Jesus que poder ser reconstruído pela
investigação histórica, aquele homem que viveu e morreu na Palestina do
século I, ocupado na época pelos romanos”.
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II - QUESTÕES HISTÓRICAS
A) O vaivém da questão histórica
A distinção entre o “Cristo da Fé” e o “Jesus
Histórico” são questões da atualidade, não é presente no Novo Testamento, nem
da tradição eclesial.
As obras cristologicas apresentam um resumo histórico
da distinção em Jesus
Histórico e o Cristo da Fé. Iremos apresentar três etapas do
processo de estudo sobre Jesus (o Cristo):
1º) Tinha como preocupação descobrir quem teria sido
Jesus de Nazaré, reconstruir sua história, deixando de lado a
morte-ressurreição. Os dogmas não são levados em consideração. Vemos
sempre livros, revistas e programas na televisão que apresentam um “Jesus”;
2º) Constata a impossibilidade de reconstruir toda a
história de Jesus, pois, cada autor escreve uma biografia diferente, um Jesus a
seu gosto. Muitos autores passaram a dar importância e valor ao Cristo da fé,
proclamada pelos Apóstolos. Assim foi dado importância ao estudo do Cristo da
fé e não as realidades histórica de Jesus - foi o que predominou nos cinco
décadas do século XX. R. Bultmann é o mais importante autor deste período;
3º) No terceiro momento prevalece os estudos
exegéticos, onde o Jesus histórico e o Cristo proclamado pela fé são estudados
de forma bem articulada.
B) O Acesso a Jesus de Nazaré: o
histórico e o interpretado
Para chegarmos à realidade de Jesus
de Nazaré, dependemos da tradição, que retoma dos discípulos. Que por sua vez
chegou até nos através do Novo Testamento. Os Evangelhos são interpretações
teológicas a respeito de Jesus Cristo, de sua mensagem, de Sua vida, morte e ressurreição.
Essas
interpretações foram elaboradas no século I, com o objetivo de responder as
duvidas das primeiras comunidades cristãs. São “interpretações crentes”,
“interpretação pós-pascal”. O material evangélico de origem pré-pascal
(atitudes, acontecimentos, a palavras, tudo o que Jesus fez) e as
interpretações pós-pascais, formam os Evangelhos. Todo o Novo Testamento é
Palavra de Deus.
É
importante fazer distinção dos acontecimentos da vida de Jesus, para ver em que
consiste o Seu seguimento: a) pré-pascal
e b) pós-pascal.
Os exegetas apontam dados da vida de Jesus, que são de base histórica: a
existência de Jesus de Nazaré; o batismo de Jesus e a tentação; o fato de Jesus
ter anunciado a chegada do Reino de Deus e dado sinais que marcavam sua
atuação: ele viveu toda a sua vida a serviço do Reino; o fato de Jesus ter
realizado curas; a realidade de que Jesus atribui a si mesmo o poder de perdoar
pecados, de modificar a Lei de Moisés, de violar prescrições sobre o sábado e
de anunciar a vontade de Deus, com base em sua própria autoridade; o êxito
radical como pregador, enfrentando depois duros conflitos; a experiência de uma profunda crise, mais ou
menos na metade ou perto do final de sua vida e pregador; o relacionamento
peculiar com os pobres, pecadores e marginalizados em geral; a escolha e o
envio de um grupo de seguidores; a utilização de parábolas em sua pregação; a
viagem para Jerusalém: entrada solene na cidade onde ceou com seus discípulos; o
aprisionamento e a crucifixão; o cartas colocado na cruz; a consciência de uma
missão única.
C) O acesso a Jesus de Nazaré: a
mensagem e o instrumental utilizado em Sua comunicação
Alguém poderia perguntar qual o
interesse nosso e dos evangelizadores (e os amigos Dele) nas investigações
históricas sobre Jesus? Não seria melhor continuar lendo os Evangelhos como
sempre foram lidos? De maneira acrítica
e ingênua?
É
preciso termos consciência de que a linguagem, a visão do mundo, etc, mudaram
muito. E nós precisamos colaborar com o povo para assimilarem a Boa Nova,
anunciada por Jesus. Sendo necessário fazer distinção entre: a) dizer, e b) fazer.
Sempre que nos deparamos com um texto
de outra cultura, devemos nos perguntar: a)
Que será que o autor quer transmitir como mensagem, como verdade a ser aceita,
como experiência a ser comunicada? b)
Quando utiliza esta ou aquela expressão, isto é, um determinado instrumento
lingüístico?
O afirmar
é a verdade ou mensagem que o autor deseja apresentar à aceitação dos outros.
O dizer compreende
o instrumental utilizado como veiculo para comunicar a mensagem.
Por exemplo o texto de Gn 2,21-24,
relata a criação da mulher, que ela é tão humana quanto o homem, que é
possuidora da mesma dignidade do homem e merecedora do mesmo respeito. Essa
afirmação ou mensagem é comunicada mediante uma determinada expressão cultural,
ou seja, com o auxilio do mito da mulher tirada da costela do homem.
Cabe ao evangelizador (a nós), dentro
da cultura moderna não deixar o povo preso a uma compreensão repetitiva do
texto, e sim da mensagem viva do Evangelho.
III - MORTE-RESSURREIÇÃO: PONTO DE
PARTIDA DA FÉ EXPLICITA EM
JESUS CRISTO E DA REFLEXÃO CRISTOLÓGICA
A
fé em Jesus Cristo
não seria possível sem a ressurreição. Antes da Páscoa, os discípulos tinham
uma fé em Jesus embrionária. Uma fé explicita só se desenvolveu após a
experiência pascal (que inclui Pentecostes).
Na
experiência da Páscoa, encontra-se o fundamento do que será uma fé explicita e
amadurecida em Jesus
Cristo. A Páscoa é também o ponto de partida para a reflexão
cristão sobre Jesus Cristo (cristologia). A percepção básica é fácil de ser
resumida: O CRUCIFICADO É O RESSUSCITADO. Fica assim iluminado o sentido e o
significado da vida e morte de Jesus. A ressurreição manifesta a verdade do
messianismo vivenciado por Jesus de Nazaré.
A
existência terrena de Jesus de Nazaré (vida na obscuridade e na fraqueza) passa
a ter um sentido profundamente libertador, quando os cristãos a iluminam com a
luz da experiência pascal. Em
Jesus Cristo, morto e ressuscitada, percebem e confessam na
fé dois modos de existir que caracterizam duas etapas distintas: a etapa da fraqueza, modo de existir,
segundo a carne; e, a etapa da plenitude
do Espírito, modo de existência segundo o Espírito (Rm 1,3-4; 1Tm 3,16; 1Pd
3,18ss).
Essas duas orientações ou modos distintos explicam as
duas orientações básicas da reflexão cristologica nas comunidades cristãs do
século I. Por exemplo: Paulo: mostra, sobretudo o Cristo ressuscitado e
glorificado; e os sinóticos:
reportam-se preferencialmente para o
Jesus terrestre.
Todavia todos partem da fé na
ressurreição daquele que foi morto na cruz. A morte-ressurreição une as duas
orientações cristologicas. Na fé do Novo Testamento não existe ruptura entre o
Jesus terreno e o Cristo glorificado.
IV - CONSEQÜÊNCIA DA SEPARAÇÃO ENTRE
O JESUS HISTÓRICO E O CRISTO DA FÉ
A) Conseqüência da valorização
unilateral do Cristo da fé
Quando
colocamos toda ênfase no Cristo glorificado em detrimento do Jesus terrestre,
seguem-se conseqüências extremamente empobrecedora para evangelização, para
espiritualidade e para vida cristã. O problema maior repousa quando
distanciamos o Glorificado do Crucificado. Eis algumas conseqüências dessa
separação: a) As celebrações
litúrgicas tendem a ficar desvinculadas do seguimento do caminho percorrido por
Jesus na terra. A celebração Eucarística poderá ocorrer separada da partilha e
do amor serviço (1Cor 11,17ss); b) A
visão unilateral do Cristo glorificado leva facilmente à exaltação religiosa,
deixando de lado o caminho do serviço e o anuncio do Crucificado. A orgulhosa
sabedoria humana tende a substituir a sabedoria da cruz (1Cor 1,17-2,6); c) A referência exclusiva ao Cristo
glorificado faz com que sal figura fique afastada da vida cotidiana do cristão.
Jesus é visto como algo distante; d) Invoca-se
hoje, freqüentemente o Espírito de Cristo. Mas será que se trata do mesmo
Espírito que impulsionou Jesus em
sua Missão de servidor? e) É
muito fácil utilizar o Cristo-Poder para justificar e sacralizar poderes deste
mundo (políticos, econômicos, etc). O poder de Jesus é utilizado também para
justificar o exercício dominador do poder da Igreja. Faltando a conexão com a
vida, as opções de Jesus de Nazaré; f) O
Cristo glorificado (amor e reconciliação universal) pode ser invocado pelas
pessoas ou pelas instituições para evitar o compromisso diante das injustiças e
dos conflitos atuais. Na referência exclusiva ao Cristo glorificado é fácil
esquecer se que Jesus d Nazaré não se manteve neutro frente aos conflitos de
seu tempo e da sua sociedade; g) Etc.
Pois existem muitos outros exemplos.
B) Conseqüências da valorização
unilateral do Jesus histórico
Vejamos
o que acontece quando se valoriza somente o Jesus histórico, deixando de lado o
Cristo ressuscitado, proclamado pela fé cristã: a) Desenvolve-se uma tendência para reduzir Jesus a um simples
revolucionários, ou a um sábio (há um empobrecimento da ‘novidade’ de Jesus Cristo);
b) Jesus de Nazaré e sua proposta,
sua vida acabam por se tornar um critério de fé cristã. Esquece-se de que o
anuncio do Ressuscitado contém algo de ‘novo’ em relação ao Jesus terreno.
Põe-se de lado toda a riqueza do valor salvifico; c) O encontro com o Jesus terreno, separado do Cristo ressuscitado,
acaba sendo estéril. d) Etc.
V – CONCLUSÃO
Concluímos
que a separação entre o Jesus terreno e o Cristo glorificado deturpam a nossa
fé de maneira muito grave dando origem a manipulação da fé.
É
urgente que tenhamos um ENCONTRO VIVO COM JESUS CRISTO, NOSSO AMIGO E IRMÃO.
Valorizando tanto a vida terrena Dele quanto sua vida gloriosa.
Estejamos
dispostos a viver as duas etapas de Sua vida: a de serviço e a de glorificação.
A
fé cristã professa algo surpreendente: no homem glorificado pela ressurreição,
encontramos a revelação plena de Deus! Encontramos o próprio Deus! A nossa fé
confessa a encarnação real de Deus no homem Jesus de Nazaré!
Jesus
é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, desde o primeiro momento de Sua
encarnação.
Que
estes dias que nos encontramos aqui iremos fazer o mesmo caminho percorrido por
Jesus de Nazaré.
VI – BIBLIOGRAFIA
Um Encontro com Jesus Cristo Vivo –
Alfonso Garcia Rubio – Paulinas – 1994.
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