1 - À GUISA DE INTRODUÇÃO:A terra é de Javé! (Por Reuberson Ferreira, mSC)
Segundo a tradição bíblica, sabe-se que a terra para a cultura semítica é um elemento sagrado. Essa concepção fundamenta-se em dois princípios básicos. Um de ordem religiosa e outro de ordem prática. O primeiro erradica-se na perspectiva de que a terra foi confiada ao povo por Deus. O segundo, por sua vez, diz respeito a possibilidade de trabalho conseqüentemente de manutenção da casa e perpetuação do povo.
Nesse espírito, a palestina para o povo da época de Jesus era duplamente importante. Esse fato porque fora o próprio Javé (YHWH) que lhes confiara a terra e sua conseqüente manutenção. Essa concepção teológica tinha suas implicações sociais, pois era a garantia de que a terra nunca sairia das mãos dos palestinos, o que lhes assegurava a sobrevivência e a continuidade do povo. Em contrapartida, por ser a terra propriedade de Javé, haveria sempre um ano sabático e um ano jubilar que garantiam o repouso do solo(sagrado)e a liberdade dos escravos.
Alocado no meio dessas idéias, o presente trabalho visa exprimir, a largos traços, alguns aspectos físicos e atividades comerciais da palestina no tempo de Jesus. Pondera-se, contudo, que não há a pretensão de exaurir toda amplitude da questão proposta. Assim, pois, com intuito de dar corpo a pesquisa iniciaremos com os aspectos físicos da Palestina.
2 - ASPECTOS FÍSICOS
O que convencionamos chamar aqui de aspectos físicos são elementos relativos a: geografia, delimitando a localização da palestina; O clima e a vegetação, apontando as estações climáticas e a flora existente na região; por fim, os principais animais que haviam na fauna palestinense. Iniciemos nossa pesquisa com uma breve digressão para conhecermos o significado do termo palestina
2.1. PALESTINA: Terra dos filisteus
O termo palestina, em poucas palavras significa, terra dos filisteus. Há, contudo, segundo Daniel- Rops controvérsias sobre a utilização desse termo para designar tal região. Segundo esse pensador o termo palestina(palestine) designava um povo vencido do qual as terras haviam sido conquistas.Assim o real nome que os israelitas usavam para indicar a palestina, “na linguagem nobre, idioma religioso e histórico, diziam: País de Canaã” . Esse termo servia, pois, para designar a terra prometida por javé e conquistada a expensas de guerras. Portanto, o termo palestina significa do ponto de vista religioso, para o povo da época, o País de Canaã, a terra prometida por Javé. Do ponto de vista, diríamos, etimológico, era: Terra dos filisteus. Uma vez de posse desse significado pode-se prosseguir este estudo conhecendo os aspectos geográficos do país de Canaã.
2.2. GEOGRAFIA: Uma terra de contrastes.
Consoante Andréia Cristina L. Frazão da Silva, pesquisadora de história Antiga da UFRJ e do CNPq , a Palestina no tempo de Jesus possuía uma extensão mediana. Seriam aproximadamente cerca de trinta e quatro mil quilômetros. Suas coordenadas geográficas estão no paralelo de 31 e 33 ao norte e os meridianos 32 e 34. Essa região era divida em pequenas áreas. No noroeste estavam as cidades da Judéia, Samaria e Galiléia; ao norte estava a Itúreia; Ao leste Traconidete, por fim a Indúmeia, ao sul. Todo esse território era margeada pelo Mar Mediterrâneo, no extremo oeste. Ao Leste estava o Rio Jordão que desemboca no Mar Morto, ao sul. Entrecortando toda região havia uma cadeia de montanhas e montes com 600 mts de altura, sendo que os mais altos estavam situados na Galiléia e no Hermon*.
O solo palestino é bastante contrastante. Em algumas áreas é quase totalmente árido sendo próprio para o cultivo de carneiros. Em outras regiões, porém, é bastante fértil, chegando a produzir um número diversificado de plantas. Num panorama geral, pode-se dizer que a Palestina apresenta um grande número de vales, grotas naturais, montanhas, desertos e depressões bem como diversas áreas férteis. Esses elementos, principalmente, constituem o solo da região. Contudo, os aspectos geográficos de uma região são, em muito, determinados pelas suas condições climáticas.
2.3. CLIMA E VEGETAÇÃO
2.3.1. Clima: da oscilação a estabilidade
Relativo aos aspectos climáticos da Palestina pode-se dizer que era um clima que apresentava uma oscilação necessária e, paradoxalmente, uma certa estabilidade. Tal oscilação diz respeito a variação do clima entre chuvoso e quente. A estabilidade,por sua vez, era porque essas duas estações tinham suas épocas determinadas.
A Palestina possuía, pois, duas estações bem definidas. Um período chuvoso e outro de intenso calor. O período chuvoso compreendia, geralmente, novembro a março. Era um período rigoroso e com muitas chuvas irregulares. Segundo Daniel –Rops a quantidade de água era de 420 mililitros d’agua por ano, sendo que nas regiões mais altas, como a Galiléia, o volume de água era de 600 mililitros.
Nos demais meses que configuravam a outra estação o clima era de temperatura bastante acentuada. A temperatura média dessa estação, segundo alguns pesquisadores, era de 23,5º graus, sendo que a máxima e a mínima eram, 25º e 15º graus, respectivamente. As temperaturas mais altas nessa estação seriam no vale do Jordão e no planalto.
Uma outra variante do clima palestino eram os constantes ventos. Os do oeste e do sudoeste,no calor, eram sempre agradáveis, pois traziam umidade e orvalho. Aqueles, porém, oriundos do leste, no entremeio das duas grandes estações, tornavam o clima seco e quente e, por vezes, desidratava pessoas e animais. Há por fim, um vento que vem do deserto(Kasmim) que poderia num “dia tornar os campos áridos durante meses” . Dado o reconhecimento do clima pode-se inquirir sobre a vegetação
2.3.2. VEGETAÇÃO: Sagrada e econômica
No que tange a questão da vegetação a Palestina, apesar de suas condições climáticas adversas - conforme já descrevemos-, apresenta uma certa diversidade. As arvores mais comuns e que não tinham uma função econômica eram o carvalho e os Terebintos . Estas plantas tinham seu valor determinado pela sua utilidade, como a sombra, por exemplo.
Um outro tipo de cultivo de plantas era motivado por sua aplicabilidade econômica e religiosa. Havia aquelas de ‘primeira’ grandeza como a oliveira, a figueira e videira. Estas eram cultivadas por causa de sua necessidade na alimentação diária ou por seu valor farmacêutico, contudo havia uma função que lhes era facultada comumente, a liturgia do templo. Havia ainda as de ‘segunda’ grandeza, como ameixeira, macieira, pareira e os sicomoro.
Os principais cereais eram a veia e o trigo. Este era a o alimento mais precioso aos olhos do povo da Palestina, ao passo que, aquele era desprezado porque era destinado aos animais e, muitas vezes, aos pobres.
As lentilhas, as favas, a cebola, o alface, a chicória, as endivas, os agriões, as beldroegas, constituíam as hortaliças. Algumas tinha sua função simplesmente nas refeições diárias e outras eram usadas como base das ervas amargas na festa do cordeiro pascal.
Por fim, entre o clima diversificado e uma produção agrícola ampla, cabe saber quais tipos de animais eram criados nessa região.
2.4. ANIMAIS: Sagrados, porém úteis!
Os animais que existiam na vida dos palestinos contemporâneos de Jesus era um número significativo. Uns eram cultivados pela utilidade religiosa e outras por servirem para o transporte de cargas. Os animais que tinham sua existência em vista do sacrifício religioso eram : o touro, os carneiros e os bodes. Estes animais movimentavam um grande comércio no templo. Consta que “em um ano apenas, no templo consumiam-se 1093 cordeiros ou cabritos, 113 touros e 32 bodes para os sacrifícios públicos” .
O burro e o camelo eram destinados para o transporte de cargas. Os burros eram reservados para conduzir pessoas e cargas em distâncias médias, para as percursos maiores eram utilizados os camelos, por sua resistência em regiões desérticas.
Entre as aves, pode-se citar a galinha, os pombos e patos como os mais comuns.
Existia, por fim, a criação de porcos que para o povo judeu era considerado impuro, mas foi cultivado pelos povos vizinhos, chamados muitas vezes de pagãos.
Conscientes das características físicas da Palestina do tempo de Jesus, pode-se adentrar nos elementos do comércios, que dependiam significativamente da geografia, do clima e dos animais.
3 - COMÉRCIO E ATIVIDADES (Frei Rodrigo Fávero Celeste, OFMconv)
3.1. PROFISSÕES
Na época de Jesus, na Palestina, a principal forma de profissão era o artesanato. O fabricante, ele mesmo fabricava e vendia suas mercadorias aos clientes. Todos deveriam exercer uma profissão, fato que ocorrendo ao contrário era tratado com extrema repulsa. Mesmos os escribas deveriam exercer uma profissão. Paulo era fabricador de tendas. Outras profissões que os doutores poderiam exercer era o de fabricante de prego, comerciante de linho, padeiros , fabricante de cevadinha, curtidor, copista, fabricante de sandálias, arquiteto, comerciante de betume, alfaiate. Algumas outras profissões eram tidas como desprezíveis como, por exemplo, a de tecelão.
Os principais produtos fabricados na província da Síria, que exercia forte influência sobre Jerusalém naquele período eram os artigos de lã como tapetes, cobertas e tecidos, também ungüentos e resina perfumada. A família herodiana investia muito em construções fazendo com que a indústria de construção expandisse em Jerusalém .
Também era considerada artífice a função de médico, que naquele período estava em cada região e em cada povoação . Havia os barbeiros, as lavadeiras de roupa como ocupação principal das mulheres, havendo, porém, os lavadeiros profissionais. E em relação ao Templo encontra-se a menção aos trocadores que se ocupavam do dinheiro . Os profissionais se distribuíam nas lojas que estavam distribuídas nas ruas.
3.2. ASPECTOS COMERCIAIS
O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia-se nas trocas locais e, sobretudo, visava o abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importava-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos – frutas, óleo, vinho, peixes – e manufaturas, como perfumes, além do betume.
Como nos informa Joaquim Jeremias, a profissão de comerciante sempre foi muito valorizada na Palestina do tempo de Jesus. Os próprios sacerdotes comerciavam. Camelos e jumentos eram utilizados para o transporte de mercadorias, conforme fora mencionado em secções anteriores. Chegados em Jerusalém pagavam as taxas aos cobradores encaminhando-se logo após para o bazar da mercadoria. Havia diversos mercados: o de cereais, de frutas e legumes, de gado, de madeira. O peso dos produtos era contado por qab e não por décimos como na maioria dos lugares. Os estrangeiros podiam trocar seus dinheiros com os cambistas, porque Jerusalém tinha uma moeda própria. Como em toda cidade grande, em Jerusalém os preços eram sempre altos.
A principal atividade econômica da região, contudo, era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião etc. Além da plantação de alimentos, eram encontrados cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como rosas, para a produção de essências para os perfumes.
As atividades de pesca, pecuária e extrativismo também não podem ser esquecidas, devido a sua grande importância econômica. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto à pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do já mencionado betume, há que ressaltar a variedade de árvores, como o salgueiro, loureiro, pinheiros, das quais se extraía madeira, temperos e essências; certos animais, como pombas; e alimentos, como o mel.
Os produtos das cidades vizinhas passavam diretamente do produtor aos consumidores. E, na Palestina de então, se praticava com freqüência o sistema de troca. Atuavam no comércio também os mercadores ambulantes, assim como os grandes negociantes que possuíam empregados e viajavam. Em Jerusalém eram feitas transações de grande vulto.
A influência da Grécia sobre o comércio palestinense sempre foi muito forte. Muitos mercadores atenienses viviam em Jerusalém. Escravos de ambos os sexos vinham da Síria. Alguns vinham de muito longe e passavam como mercadorias de trânsito, pelo grande mercado de escravos em Tiro.
A Babilônia fornecia tecidos valiosos: jacinto, escarlate, bisso, púrpura. O Templo importava tecidos até mesmo da Índia. Importavam-se especiarias da Mesopotâmia. A Palestina sempre manteve intensas relações com o Oriente, sobretudo com a Arábia que lhes forneciam os aromas para os perfumes. Vinham de lá também os leões e outros animais selvagens para as lutas de feras .
A produção e a economia baseava-se no trabalho escravagista. Os escravos não eram considerados pessoa, mas coisas de que seu dono podia dispor conforme lhe conviesse, comprando-os e vendendo-os.
3.3. CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS
Era sempre em torno de Jerusalém e na própria cidade que se desenvolviam o comércio e as constantes transações, devido a sua posição central na Judéia. Além de sua posição privilegiada, Jerusalém se beneficiava de relações marítimas fáceis pelos portos de Ascalon, Jafa, Gaza e Acra.
Pela Palestina circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas, etc. Esta região possuía importantes centros urbanos, como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, nesta região existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e o transporte de mercadorias e pessoas. Jerusalém possuía grande atividade comercial devido a dois fatores: a) era a cidade do Templo e a capital do Estado e b) como centro religioso e político era também centro econômico importante. Abriga a corte, a aristocracia sacerdotal e, também, a nobreza leiga, que trazem para a cidade grandes recursos financeiros.
3.4. MEIOS ECONÔMICOS
A moeda Tíria era a moeda do Templo, isto é, era o valor pago ao Templo devido à quantia que devia ser reservada, prescrita na Torá Esse imposto pago ao Templo em moeda tíria (tetradracma ou estatere) era também utilizado para as transações comerciais sendo que, uma moeda estrangeira se torna moeda do santuário. O dinheiro nada santo pode ter valor sagrado.
É essencial fazer menção sobre a cobrança das taxas de impostos pagas para a atividade comercial na Palestina. O publicum era um imposto que incidia sobre a a compra e a venda de qualquer produto, mesmo sendo de primeira necessidade. Essa taxa havia sido imposta pelos romanos sendo cobrada na importação ou exportação, nas divisas territoriais. Os responsáveis para a arrecadação destes impostos eram os publicani. .
4 - CONCLUSÃO
A palestina no tempo de Jesus é um aspecto importante da reflexão bíblica atual. Ela é imediatamente necessária para uma compreensão mais ampla e abrangente do contexto em que o Jesus histórico estava situado, conseqüentemente as diversas referências bíblicas a lugares, animais, dinheiro e distancias no novo testamento..
Tentou-se refletir a partir de constatações em obras de referência. Elas nos apresentam o mundo palestinense e toda a sua complexidade. Muito dos aspectos geográficos foram-se desenvolvendo ao longo de anos e a expensas de muitas revoltas – embora não tenhamos explorado sob esse angulo. Os aspectos econômicos estão diretamente localizados no âmbito da pecuária, da agricultura , da exportação e importação. Embora não mencionado diretamente, vale lembra que toda economia,da época de Jesus, estava vinculada a situação política que esse país vivia, que embora independente em muitos aspectos estava vinculada ao grande império Romano.
Por fim, a pesquisa não teve pretensão de exaurir toda complexidade da questão, mas apenas suscitar uma breve panorâmica o contexto que Jesus viveu lançando luzes para se compreender todo o aparato histórico do novo Testamento, particularmente dos Evangelhos.
REFERENCIAS
BIBLIA DA JERUSALÉM. São Paulo: paulus. 3ª impressão. 2004.
JEREMIAS, Joaquim. Jerusalém no Tempo de Jesus: Pesquisas de história econômico social no período neotestamentário. São Paulo:1983. Paulinas
LOHSE, Eduard. Contexto e Ambiente do Novo Testamento. São Paulo: 2000. Paulinas
MCKENZIE. John. L. Dicionário bíblico. São Paulo: paulus. 1983.
ROPS, Daniel. A vida quotidiana na palestina no tempo de Jesus. S/ l :Edição Lisboa.19??.
SAB: O Eterno entra na história: a terra de Israel no tempo de Jesus. São Paulo: paulinas, 2002.(coleção bíblia em comunidade. Série visão global, v12)
SILVA, Andréia Cristina L. Frazão da. A palestina no século I D.C. http://www.ifcs.ufrj.br/~frazão/palestina. htm. Acessado em 24/08/2006.
Segundo a tradição bíblica, sabe-se que a terra para a cultura semítica é um elemento sagrado. Essa concepção fundamenta-se em dois princípios básicos. Um de ordem religiosa e outro de ordem prática. O primeiro erradica-se na perspectiva de que a terra foi confiada ao povo por Deus. O segundo, por sua vez, diz respeito a possibilidade de trabalho conseqüentemente de manutenção da casa e perpetuação do povo.
Nesse espírito, a palestina para o povo da época de Jesus era duplamente importante. Esse fato porque fora o próprio Javé (YHWH) que lhes confiara a terra e sua conseqüente manutenção. Essa concepção teológica tinha suas implicações sociais, pois era a garantia de que a terra nunca sairia das mãos dos palestinos, o que lhes assegurava a sobrevivência e a continuidade do povo. Em contrapartida, por ser a terra propriedade de Javé, haveria sempre um ano sabático e um ano jubilar que garantiam o repouso do solo(sagrado)e a liberdade dos escravos.
Alocado no meio dessas idéias, o presente trabalho visa exprimir, a largos traços, alguns aspectos físicos e atividades comerciais da palestina no tempo de Jesus. Pondera-se, contudo, que não há a pretensão de exaurir toda amplitude da questão proposta. Assim, pois, com intuito de dar corpo a pesquisa iniciaremos com os aspectos físicos da Palestina.
2 - ASPECTOS FÍSICOS
O que convencionamos chamar aqui de aspectos físicos são elementos relativos a: geografia, delimitando a localização da palestina; O clima e a vegetação, apontando as estações climáticas e a flora existente na região; por fim, os principais animais que haviam na fauna palestinense. Iniciemos nossa pesquisa com uma breve digressão para conhecermos o significado do termo palestina
2.1. PALESTINA: Terra dos filisteus
O termo palestina, em poucas palavras significa, terra dos filisteus. Há, contudo, segundo Daniel- Rops controvérsias sobre a utilização desse termo para designar tal região. Segundo esse pensador o termo palestina(palestine) designava um povo vencido do qual as terras haviam sido conquistas.Assim o real nome que os israelitas usavam para indicar a palestina, “na linguagem nobre, idioma religioso e histórico, diziam: País de Canaã” . Esse termo servia, pois, para designar a terra prometida por javé e conquistada a expensas de guerras. Portanto, o termo palestina significa do ponto de vista religioso, para o povo da época, o País de Canaã, a terra prometida por Javé. Do ponto de vista, diríamos, etimológico, era: Terra dos filisteus. Uma vez de posse desse significado pode-se prosseguir este estudo conhecendo os aspectos geográficos do país de Canaã.
2.2. GEOGRAFIA: Uma terra de contrastes.
Consoante Andréia Cristina L. Frazão da Silva, pesquisadora de história Antiga da UFRJ e do CNPq , a Palestina no tempo de Jesus possuía uma extensão mediana. Seriam aproximadamente cerca de trinta e quatro mil quilômetros. Suas coordenadas geográficas estão no paralelo de 31 e 33 ao norte e os meridianos 32 e 34. Essa região era divida em pequenas áreas. No noroeste estavam as cidades da Judéia, Samaria e Galiléia; ao norte estava a Itúreia; Ao leste Traconidete, por fim a Indúmeia, ao sul. Todo esse território era margeada pelo Mar Mediterrâneo, no extremo oeste. Ao Leste estava o Rio Jordão que desemboca no Mar Morto, ao sul. Entrecortando toda região havia uma cadeia de montanhas e montes com 600 mts de altura, sendo que os mais altos estavam situados na Galiléia e no Hermon*.
O solo palestino é bastante contrastante. Em algumas áreas é quase totalmente árido sendo próprio para o cultivo de carneiros. Em outras regiões, porém, é bastante fértil, chegando a produzir um número diversificado de plantas. Num panorama geral, pode-se dizer que a Palestina apresenta um grande número de vales, grotas naturais, montanhas, desertos e depressões bem como diversas áreas férteis. Esses elementos, principalmente, constituem o solo da região. Contudo, os aspectos geográficos de uma região são, em muito, determinados pelas suas condições climáticas.
2.3. CLIMA E VEGETAÇÃO
2.3.1. Clima: da oscilação a estabilidade
Relativo aos aspectos climáticos da Palestina pode-se dizer que era um clima que apresentava uma oscilação necessária e, paradoxalmente, uma certa estabilidade. Tal oscilação diz respeito a variação do clima entre chuvoso e quente. A estabilidade,por sua vez, era porque essas duas estações tinham suas épocas determinadas.
A Palestina possuía, pois, duas estações bem definidas. Um período chuvoso e outro de intenso calor. O período chuvoso compreendia, geralmente, novembro a março. Era um período rigoroso e com muitas chuvas irregulares. Segundo Daniel –Rops a quantidade de água era de 420 mililitros d’agua por ano, sendo que nas regiões mais altas, como a Galiléia, o volume de água era de 600 mililitros.
Nos demais meses que configuravam a outra estação o clima era de temperatura bastante acentuada. A temperatura média dessa estação, segundo alguns pesquisadores, era de 23,5º graus, sendo que a máxima e a mínima eram, 25º e 15º graus, respectivamente. As temperaturas mais altas nessa estação seriam no vale do Jordão e no planalto.
Uma outra variante do clima palestino eram os constantes ventos. Os do oeste e do sudoeste,no calor, eram sempre agradáveis, pois traziam umidade e orvalho. Aqueles, porém, oriundos do leste, no entremeio das duas grandes estações, tornavam o clima seco e quente e, por vezes, desidratava pessoas e animais. Há por fim, um vento que vem do deserto(Kasmim) que poderia num “dia tornar os campos áridos durante meses” . Dado o reconhecimento do clima pode-se inquirir sobre a vegetação
2.3.2. VEGETAÇÃO: Sagrada e econômica
No que tange a questão da vegetação a Palestina, apesar de suas condições climáticas adversas - conforme já descrevemos-, apresenta uma certa diversidade. As arvores mais comuns e que não tinham uma função econômica eram o carvalho e os Terebintos . Estas plantas tinham seu valor determinado pela sua utilidade, como a sombra, por exemplo.
Um outro tipo de cultivo de plantas era motivado por sua aplicabilidade econômica e religiosa. Havia aquelas de ‘primeira’ grandeza como a oliveira, a figueira e videira. Estas eram cultivadas por causa de sua necessidade na alimentação diária ou por seu valor farmacêutico, contudo havia uma função que lhes era facultada comumente, a liturgia do templo. Havia ainda as de ‘segunda’ grandeza, como ameixeira, macieira, pareira e os sicomoro.
Os principais cereais eram a veia e o trigo. Este era a o alimento mais precioso aos olhos do povo da Palestina, ao passo que, aquele era desprezado porque era destinado aos animais e, muitas vezes, aos pobres.
As lentilhas, as favas, a cebola, o alface, a chicória, as endivas, os agriões, as beldroegas, constituíam as hortaliças. Algumas tinha sua função simplesmente nas refeições diárias e outras eram usadas como base das ervas amargas na festa do cordeiro pascal.
Por fim, entre o clima diversificado e uma produção agrícola ampla, cabe saber quais tipos de animais eram criados nessa região.
2.4. ANIMAIS: Sagrados, porém úteis!
Os animais que existiam na vida dos palestinos contemporâneos de Jesus era um número significativo. Uns eram cultivados pela utilidade religiosa e outras por servirem para o transporte de cargas. Os animais que tinham sua existência em vista do sacrifício religioso eram : o touro, os carneiros e os bodes. Estes animais movimentavam um grande comércio no templo. Consta que “em um ano apenas, no templo consumiam-se 1093 cordeiros ou cabritos, 113 touros e 32 bodes para os sacrifícios públicos” .
O burro e o camelo eram destinados para o transporte de cargas. Os burros eram reservados para conduzir pessoas e cargas em distâncias médias, para as percursos maiores eram utilizados os camelos, por sua resistência em regiões desérticas.
Entre as aves, pode-se citar a galinha, os pombos e patos como os mais comuns.
Existia, por fim, a criação de porcos que para o povo judeu era considerado impuro, mas foi cultivado pelos povos vizinhos, chamados muitas vezes de pagãos.
Conscientes das características físicas da Palestina do tempo de Jesus, pode-se adentrar nos elementos do comércios, que dependiam significativamente da geografia, do clima e dos animais.
3 - COMÉRCIO E ATIVIDADES (Frei Rodrigo Fávero Celeste, OFMconv)
3.1. PROFISSÕES
Na época de Jesus, na Palestina, a principal forma de profissão era o artesanato. O fabricante, ele mesmo fabricava e vendia suas mercadorias aos clientes. Todos deveriam exercer uma profissão, fato que ocorrendo ao contrário era tratado com extrema repulsa. Mesmos os escribas deveriam exercer uma profissão. Paulo era fabricador de tendas. Outras profissões que os doutores poderiam exercer era o de fabricante de prego, comerciante de linho, padeiros , fabricante de cevadinha, curtidor, copista, fabricante de sandálias, arquiteto, comerciante de betume, alfaiate. Algumas outras profissões eram tidas como desprezíveis como, por exemplo, a de tecelão.
Os principais produtos fabricados na província da Síria, que exercia forte influência sobre Jerusalém naquele período eram os artigos de lã como tapetes, cobertas e tecidos, também ungüentos e resina perfumada. A família herodiana investia muito em construções fazendo com que a indústria de construção expandisse em Jerusalém .
Também era considerada artífice a função de médico, que naquele período estava em cada região e em cada povoação . Havia os barbeiros, as lavadeiras de roupa como ocupação principal das mulheres, havendo, porém, os lavadeiros profissionais. E em relação ao Templo encontra-se a menção aos trocadores que se ocupavam do dinheiro . Os profissionais se distribuíam nas lojas que estavam distribuídas nas ruas.
3.2. ASPECTOS COMERCIAIS
O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia-se nas trocas locais e, sobretudo, visava o abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importava-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos – frutas, óleo, vinho, peixes – e manufaturas, como perfumes, além do betume.
Como nos informa Joaquim Jeremias, a profissão de comerciante sempre foi muito valorizada na Palestina do tempo de Jesus. Os próprios sacerdotes comerciavam. Camelos e jumentos eram utilizados para o transporte de mercadorias, conforme fora mencionado em secções anteriores. Chegados em Jerusalém pagavam as taxas aos cobradores encaminhando-se logo após para o bazar da mercadoria. Havia diversos mercados: o de cereais, de frutas e legumes, de gado, de madeira. O peso dos produtos era contado por qab e não por décimos como na maioria dos lugares. Os estrangeiros podiam trocar seus dinheiros com os cambistas, porque Jerusalém tinha uma moeda própria. Como em toda cidade grande, em Jerusalém os preços eram sempre altos.
A principal atividade econômica da região, contudo, era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião etc. Além da plantação de alimentos, eram encontrados cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como rosas, para a produção de essências para os perfumes.
As atividades de pesca, pecuária e extrativismo também não podem ser esquecidas, devido a sua grande importância econômica. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto à pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do já mencionado betume, há que ressaltar a variedade de árvores, como o salgueiro, loureiro, pinheiros, das quais se extraía madeira, temperos e essências; certos animais, como pombas; e alimentos, como o mel.
Os produtos das cidades vizinhas passavam diretamente do produtor aos consumidores. E, na Palestina de então, se praticava com freqüência o sistema de troca. Atuavam no comércio também os mercadores ambulantes, assim como os grandes negociantes que possuíam empregados e viajavam. Em Jerusalém eram feitas transações de grande vulto.
A influência da Grécia sobre o comércio palestinense sempre foi muito forte. Muitos mercadores atenienses viviam em Jerusalém. Escravos de ambos os sexos vinham da Síria. Alguns vinham de muito longe e passavam como mercadorias de trânsito, pelo grande mercado de escravos em Tiro.
A Babilônia fornecia tecidos valiosos: jacinto, escarlate, bisso, púrpura. O Templo importava tecidos até mesmo da Índia. Importavam-se especiarias da Mesopotâmia. A Palestina sempre manteve intensas relações com o Oriente, sobretudo com a Arábia que lhes forneciam os aromas para os perfumes. Vinham de lá também os leões e outros animais selvagens para as lutas de feras .
A produção e a economia baseava-se no trabalho escravagista. Os escravos não eram considerados pessoa, mas coisas de que seu dono podia dispor conforme lhe conviesse, comprando-os e vendendo-os.
3.3. CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS
Era sempre em torno de Jerusalém e na própria cidade que se desenvolviam o comércio e as constantes transações, devido a sua posição central na Judéia. Além de sua posição privilegiada, Jerusalém se beneficiava de relações marítimas fáceis pelos portos de Ascalon, Jafa, Gaza e Acra.
Pela Palestina circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas, etc. Esta região possuía importantes centros urbanos, como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, nesta região existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e o transporte de mercadorias e pessoas. Jerusalém possuía grande atividade comercial devido a dois fatores: a) era a cidade do Templo e a capital do Estado e b) como centro religioso e político era também centro econômico importante. Abriga a corte, a aristocracia sacerdotal e, também, a nobreza leiga, que trazem para a cidade grandes recursos financeiros.
3.4. MEIOS ECONÔMICOS
A moeda Tíria era a moeda do Templo, isto é, era o valor pago ao Templo devido à quantia que devia ser reservada, prescrita na Torá Esse imposto pago ao Templo em moeda tíria (tetradracma ou estatere) era também utilizado para as transações comerciais sendo que, uma moeda estrangeira se torna moeda do santuário. O dinheiro nada santo pode ter valor sagrado.
É essencial fazer menção sobre a cobrança das taxas de impostos pagas para a atividade comercial na Palestina. O publicum era um imposto que incidia sobre a a compra e a venda de qualquer produto, mesmo sendo de primeira necessidade. Essa taxa havia sido imposta pelos romanos sendo cobrada na importação ou exportação, nas divisas territoriais. Os responsáveis para a arrecadação destes impostos eram os publicani. .
4 - CONCLUSÃO
A palestina no tempo de Jesus é um aspecto importante da reflexão bíblica atual. Ela é imediatamente necessária para uma compreensão mais ampla e abrangente do contexto em que o Jesus histórico estava situado, conseqüentemente as diversas referências bíblicas a lugares, animais, dinheiro e distancias no novo testamento..
Tentou-se refletir a partir de constatações em obras de referência. Elas nos apresentam o mundo palestinense e toda a sua complexidade. Muito dos aspectos geográficos foram-se desenvolvendo ao longo de anos e a expensas de muitas revoltas – embora não tenhamos explorado sob esse angulo. Os aspectos econômicos estão diretamente localizados no âmbito da pecuária, da agricultura , da exportação e importação. Embora não mencionado diretamente, vale lembra que toda economia,da época de Jesus, estava vinculada a situação política que esse país vivia, que embora independente em muitos aspectos estava vinculada ao grande império Romano.
Por fim, a pesquisa não teve pretensão de exaurir toda complexidade da questão, mas apenas suscitar uma breve panorâmica o contexto que Jesus viveu lançando luzes para se compreender todo o aparato histórico do novo Testamento, particularmente dos Evangelhos.
REFERENCIAS
BIBLIA DA JERUSALÉM. São Paulo: paulus. 3ª impressão. 2004.
JEREMIAS, Joaquim. Jerusalém no Tempo de Jesus: Pesquisas de história econômico social no período neotestamentário. São Paulo:1983. Paulinas
LOHSE, Eduard. Contexto e Ambiente do Novo Testamento. São Paulo: 2000. Paulinas
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FONTE: Abiblia.org
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