
“Prouvera a Deus que todo o povo do
Senhor profetizasse...” (Nm 11, 29). Com seu freqüente realismo, s.
Paulo acrescenta: desde que tal carisma da profecia seja exercitado na
ótica do serviço aos demais (cf 1 Cor 14, 29-32). Os grandes nomes dos
“padres espirituais”, dos “abas”, dos “starcy” (anciãos) no monaquismo
depende desta constatação: o mundo inteiro ainda não é digno de ser
iluminado diretamente pelo Espírito Santo, embora isso seja conforme a
natureza humana. Então existem alguns homens particularmente
“espirituais” que por isso são capazes de comunicar aos demais a vontade
de Deus.
Resumimos brevemente as características reconhecidas em alguns destes homens.
1. É pai. É considerado como pai
no verdadeiro sentido da palavra, porque comunica não somente um
ensinamento, mas também a vida espiritual. Para colher o sentido desta
paternidade, urge recordar o uso feito pela linguagem cristã. Quando s.
Paulo escreve aos seus “filhinhos”, dizendo: “por quem de novo sinto
dores de parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gal 4, 19), sabe
que se trata de uma real paternidade, de uma participação ativa na
paternidade divina (cf Ef 3, 14-15).
2. Trata-se de um homem espiritual. Estamos convencidos que é o Espírito Santo a inspirar as palavras que ele dirige aos seus discípulos.
3. Não é necessariamente um sacerdote.
A sua função primária é de receber a “manifestação dos pensamentos”
(exagoreusis) e não a confissão dos pecados em vista de obter a
absolvição. Freqüentemente apóia-se nisso: o mesmo sacerdote não é
suficiente para se tornarem padres espirituais.
4. Deve ser o Igúmenos (Abade)? A
esse respeito se encontram documentos divergentes, segundo os tratados
nos vários typiká (regras de vida/livros teóricos) ou livros sobre a
vida dos santos (que descrevem a praxe). As diferenças evidenciam alguns
problemas que são sempre atuais e cuja solução é difícil. A questão se
coloca nestes termos: é melhor ter um governo centralizador ou permitir
que a responsabilidade seja partilhada? É preciso priorizar o aspecto
comunitário da ordem, ou deixar que isso surja através das relações
pessoais, numa total confiança ou liberdade?
5. O padre é diakritikós. É a
caridade a revelar se um homem é verdadeiramente espiritual. Mas
concernente a direção espiritual, o dom mais precioso é a diákrisis, o
discernimento dos pensamentos. Porque a sua aplicação é individual, o
padre diakritikós é ao mesmo tempo dioratikós, ou seja, possui o dom da
“perspicácia”, o dom da cardiognosia, o conhecimento do estado do
coração de seus discípulos.
6. O padre espiritual tem o dom da palavra.
O carisma do discernimento seria inútil se não fosse acrescentado pela
profecia, a arte de falar justamente no modo mais oportuno.
7. No padre espiritual a bondade é compatível com a austeridade: estas duas qualidades são indispensáveis para todos aqueles que se dedicam ao cuidado das almas.
8. As mulheres também podem ser guias espirituais.
Se as mulheres têm a mesma possibilidade dos homens de serem
espirituais, então podem também ser guias espirituais e se tornarem mães
espirituais (âmmas). E quais são os deveres correspondentes do
discípulo? Ele tem, sobretudo três: a fidelidade, a sinceridade e a
obediência. Uma vez tendo escolhido um padre espiritual, deve ser-lhe
fiel. Deve ser-lhe sincero e manifestar-lhe todos os pensamentos. Deve
inclinar-se a obediência álogos, sem julgamento próprio, porque só assim
se alcança o objetivo da direção espiritual, que a libertação da
“vontade própria”, raiz de todos os pensamentos perversos, e, portanto
inimiga da salvação”.
Tomás Spidlík
FONTE: Splaghynia.com
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