
Um coração em busca do
tesouro verdadeiro
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n.
25 de 23 de Junho de 2013
«O amor, a caridade, o serviço, a paciência, a bondade e a ternura» são os
«tesouros lindíssimos» sobre os quais o Papa Francisco falou na manhã de
sexta-feira, 21 de Junho, durante a missa na capela da Domus Sanctae
Marthae.
A primeira coisa a fazer, explicou o Santo Padre, é perguntar: «Qual é o meu
tesouro?». E certamente não podem ser as riquezas, dado que o Senhor diz: «Não
acumuleis para vós tesouros na terra, porque no final perdem-se». De resto,
frisou o Papa, são «tesouros a risco, que se perdem»; e são também «tesouros que
devemos deixar, não os podemos levar connosco. Nunca vi um camião de mudança
atrás de um cortejo fúnebre», comentou. Então, perguntou-se, qual é o tesouro
que podemos levar connosco no final da nossa vicissitude terrena? A resposta é
simples: «Podemos levar o que demos, só isso. Mas o que poupamos para nós
mesmos, não podemos levar connosco». São coisas que os ladrões podem roubar, que
se deterioram ou que ficarão para os herdeiros. Enquanto «aquele tesouro que
demos aos outros» durante a vida, levá-lo-emos connosco depois da morte «e ele
será “o nosso mérito”»; ou melhor, frisou, «o mérito de Jesus Cristo em nós».
Também porque é a única coisa «que o Senhor nos deixa levar». O próprio Jesus
disse-o claramente aos doutores da lei que se gabavam da beleza do templo de
Jerusalém: «Não permanecerá pedra sobre pedra». Isto vale também «para os nossos
tesouros, que dependem das riquezas, do poder humano».
Na manhã de quinta-feira, 20 de Junho, o Papa Francisco relançou o
conselho dado por Jesus aos apóstolos. Não há necessidade — disse — de
desperdiçar muitas palavras para rezar: o Senhor sabe o que lhe queremos dizer.
O importante é que a primeira palavra da nossa prece seja «Pai». O Papa afirmou
também que a oração não deve ser considerada uma fórmula mágica: «A oração não é
algo mágico; não se faz magia com a oração». Narrando a sua experiência pessoal,
como faz de costume, disse que nunca se dirigiu a bruxas que prometem magias mas
soube o que acontece em encontros deste tipo: desperdiçam-se tantas palavras
para se obter «às vezes a cura, ou outras coisas» com a ajuda da magia. E
advertiu: «isto é pagão».
Então, como devemos rezar? Foi Jesus quem no-lo ensinou: «Diz que o Pai que
está nos céus “sabe do que precisamos, ainda antes que lho peçamos”». Portanto,
a primeira palavra seja «“Pai”. Esta é a chave da oração. Sem dizer, sem sentir
esta palavra, não se pode rezar», explicou o bispo de Roma. E perguntou-se: «A
quem rezo? Ao Deus Todo-Poderoso? Está demasiado distante. Não o ouço, nem Jesus
o ouvia. A quem rezo? Ao Deus cósmico? Mais ou menos habitual nestes dias, não?
Rezar ao Deus cósmico. Esta modalidade politeísta que tem origem numa cultura
superficial».
Ao contrário, devemos «rezar ao Pai», àquele que nos criou. E não só: é
preciso rezar ao Pai «nosso», isto é, não ao Pai de um genérico e demasiado
anónimo «todos», mas àquele «que nos gerou, nos deu a vida, a ti, a mim», como
pessoa única, explicou o Pontífice. É o Pai «que nos acompanha no nosso
caminho», que «conhece toda a nossa vida, toda»; àquele que sabe o que «é bom e
o que não é tão bom. Conhece tudo». Mas ainda não é suficiente: «Se não
começarmos a oração — frisou — com esta palavra não pronunciada pelos lábios,
mas dita com o coração, não podemos rezar como cristãos».
No dia anterior, 19 de Junho, o Papa Francisco indicou as categorias
de «hipócritas que Jesus tanto reprova»: «intelectuais sem talento, eticistas
sem bondade, portadores de belezas de museu». Na homilia o Pontífice recordou
que «o Senhor fala várias vezes no evangelho sobre a hipocrisia» e «contra os
hipócritas», enumerando os episódios mais significativos. Trata-se, disse
actualizando o discurso, «de cristãos intelectuais sem talento». Não sabem o que
é a bondade. São eticistas: deve-se fazer isto e isto e isto... Enchem-se de
preceitos mas «sem bondade». Enfeitam-se com «vestes, muitos objectos para
fingir que são majestosos, perfeitos»; contudo, «não têm o sentido da beleza. Só
conseguem uma beleza de museu».
Na manhã de terça-feira, 18 de Junho, o Papa convidou a amar os nossos
inimigos, aqueles que nos perseguem e nos fazem sofrer, é difícil e nem sequer é
um «bom negócio» porque nos empobrece. E no entanto é esta a estrada indicada e
percorrida por Jesus para a nossa salvação.
O Papa advertiu também sobre as atitudes que justificam a vingança de acordo
com o grau da ofensa recebida, do mal causado pelos outros: isto é, a vingança
fundada no princípio «olho por olho, dente por dente». Com o perdão, com o amor
pelo inimigo tornamo-nos mais pobres. Mas aquela pobreza é semente fecunda para
os outros, como a pobreza de Jesus se tornou graça para todos nós, salvação.
Pensemos nos nossos inimigos, em quem não nos ama. Seria bom se oferecêssemos a
missa por eles, se oferecêssemos o sacrifício de Jesus por eles que não nos
amam. E também por nós, para que o Senhor nos ensine esta sabedoria: tão difícil
mas ao mesmo tempo tão bonita e que nos torna semelhantes também ao seu Filho,
que na sua humilhação se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza».
Na missa celebrada na manhã de segunda-feira, 17 de Junho, o Papa
falou do que distingue o cristão. O nada — disse — é semente de guerra, sempre;
porque é semente de egoísmo. O tudo é Jesus». É na compreensão correcta deste
binómio que se fundam a mansidão e a magnanimidade». Quando somos propensos a
seguir o nada, «nascem os conflitos em família, com os amigos, na sociedade. Até
os conflitos que terminam em guerra».
FONTE: Vatican.va
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